Palavras do Ministro Provincial, Frei Liomar Pereira da Silva sobre o I Encontro dos Egressos da Bahia e Sergipe
Caros irmãos,
“Paz e Bem” – A paz se constrói pela caridade
Agradeço e saúdo, a cada um e todos, os irmãos neste nosso I Encontro dos frades egressos da nossa amada Província dos Capuchinhos de Bahia e Sergipe, com a mesma a saudação franciscana ensinada pelo nosso Seráfico Pai, S Francisco, e conhecida por todos: “Paz e Bem”! Paz e Bem é mais do que do um simples gesto de educação. É um programa de vida, é uma forma evangélica de viver o espírito do Santo Evangelho. Para São Francisco, a Paz e o Bem é uma pessoa: N. Sr. Jesus Cristo: Crucificado, sem nada de próprio e casto! Para nós seus filhos isto não é diferente.
Nestas duas ‘pequenas’ palavras: Paz e Bem, se escondem um dinamismo e uma provocação deste nosso reencontro de Irmãos Capuchinhos. O dinamismo próprio da herança deixada pelo nosso Pai São Francisco: Carisma Franciscano e uma provocação que o mundo contemporâneo nos impõe.
O Carisma Franciscano que vem se concretizando há mais de 800 anos vem nos relembrar a grande verdade: somos todos Irmãos! Relembremos: Uma das fontes mais antigas, chamada de Anônimo Perusino, retrata a chegada dos primeiros companheiros foi, de fato, um presente de Deus e uma confirmação daquilo que ele estava buscando. Por isso, quando ele escreveu o seu Testamento, já no final de sua vida, ele se recorda deste momento singular:
“Depois que o Senhor me deu irmãos, ninguém me mostrou o que deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que eu deveria viver segundo a forma do santo Evangelho” (Testamento 14).
Podemos dizer então que foi com a chegada dos dois primeiros companheiros do seráfico pai, o Frei Bernardo de Quintavalle e o Frei Pedro Cattani, que o movimento franciscano nasceu. Enquanto esteve sozinho, São Francisco não teve total clareza do modo de vida que deveria seguir. Foi na fraternidade que ele recebeu de Deus a “revelação” de sua forma de vida. São Francisco nem podia imaginar a multidão de irmãos e irmãs que iria segui-lo. Em síntese, repito: Somos Irmãos e eu acrescento: somos Irmãos Capuchinhos!
Se uma família biológica não se dissolve... pode até haver suas desavenças, conflitos. O vínculo permanece. Quanto mais uma família espiritual. Este é ad aeternum. Deste modo, quero, em nome da nossa Província reforçar aquilo que nos une, aliás, é muito maior: o nosso ser irmão e irmão capuchinho!
Desta consciência fraterna, nasce o forte apelo de continuarmos aquilo que nunca deixamos de ser: Capuchinho! Precisamos superar, ambas as partes: os que permanecem e os egressos, a mentalidade da indiferença, da rejeição, do afastamento, ressentimento, mágoas.
No último dia 11 deste, celebramos a Festa de Nossa Mãe Santa Clara e ela nos exortava: “Nunca perca de vista o nosso ponto de partida”. E nosso ponto de partida é o Amor.
Lembro-me de uma passagem de um dos livros de saudoso Alceu Amoroso Lima, conhecido e amado filósofo católico no Brasil, em que o mesmo emitia uma crítica a Shakespeare, quando colocava na boca de Hamelet, a questão: “ser ou não ser”. O Prof. Alceu afirmava que esta não é a questão existencial do ser humano, pois nós já existimos, somos. A questão, segundo ele, é exatamente esta: “amar ou não amar”. O amor é a nossa identidade, de homens batizados e de Homens franciscanos.
Uma vez feita uma experiência na magnitude que é a vida religiosa consagrada, onde bebemos da mesma fonte: Espiritualidade Franciscana. Fica, permanece em nós, a “capuchineidade.” O ser capuchinho nos acompanha por toda nossa existência. Mesmo quando se faz ao longo do caminho uma nova escolha de vida, deixando esta forma. Não se desvencilha dele somente porque foi assinado um rescrito autorizando que se deixe o convento e abrace outro modo de viver.
Onde estivermos, seja qual for a ocupação profissional que exerçamos, seja egresso ou não, somos um braço da espiritualidade capuchinha na sociedade. Francisco de Assis pisou a terra e confraternizou-se com o solo. Olhou e cantou a vida, por isso ao olhar da sua janela para o horizonte em Assis, este era mais amplo. Quem olha com profundidade apaixona-se pelo que vê; quem não olha com profundidade apenas usa; abusa, descarta, desconecta. Este é o olhar do amor líquido que vai demolindo os valores morais, éticos, cristãos que dão suporte à vida. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman é um dos intelectuais mais respeitados da atualidade. Em seu livro: “Amor liquido”. Ele afirma algo que já sentimos bem próximo de nós. Constata Bauman, Vivemos tempos líquidos, nada é feito para durar, tampouco sólido. Os relacionamentos escorrem das nossas mãos por entre os dedos feito água. Temos, mesmo com todas as ferramentas de comunicação, tais como rede sociais, emails, whatssap. Contudo, acentuou-se a dificuldade de comunicação afetiva, já que todos querem relacionar-se. Entretanto, não conseguem, seja por medo ou insegurança. É um mundo de incertezas, cada um por si. Temos relacionamentos instáveis, pois, as relações humanas estão cada vez mais flexíveis. Acostumados com o mundo virtual e com a facilidade de “desconectar-se”, as pessoas não conseguem manter um vínculo fraterno, saudável, respeitoso e digno. É um amor criado pela sociedade atual (modernidade líquida) para tirar-lhes a responsabilidade com ética, com a moral, com princípios e valores cristãos. Pessoas estão sendo tratadas como bens de consumo, ou seja, caso haja defeito descarta-se - ou até mesmo troca-se por "versões mais atualizadas".
Esse modelo de sociedade líquida, marcada pelo relativismo, descartável, desconectado, pela valorização da Eu, da Imagem, do Prazer não corresponde com a lógica de Deus. Ensina-nos o Santo Padre, o Papa Francisco: “A lógica mundana impele-nos para o sucesso, o domínio, o dinheiro. A lógica de Deus para a humildade, o serviço e o amor”. Ninguém melhor viveu esta lógica de Deus como são Francisco.
Nunca a humanidade esteve num dilema como o que estamos vivendo. O desenvolvimento tecnológico está levando as pessoas a uma cegueira que poderá nos levar a nossa própria destruição. Vivemos, ainda dizer, numa sociedade bombardeada pela imagem, pelo espetáculo, pelo show, pela encenação, onde o individuo é levado a buscar uma representação de si e uma supervalorização do EU, lembremos da nossa vocação Cristã, de homens batizados, somos chamados pelo Espírito, extamente ao contrário, a sermos sinal da presença de Deus na sociedade. E Deus que devemos levar e anuncia ao mundo. È esta a imagem, é este rosto que mundo precisa redescobrir, se reencantar.
Entendo que esta tarefe também é nossa de homens Franciscanos que somos! A Igreja está em saída, conforme a convcação do Papa Francisco Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: “A Igreja em saída é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido. Diz ainda, O Papa Francisco: “prefiro "mil vezes" uma igreja acidentada a uma igreja doente”. Temos o compromisso de apresentar ao mundo o rosto do Pai. O papa Francisco em breve na Festa da Imacula Conceição, decretará em 2015-2016, o Ano Da Misericordia... logo, podemos acrescentar: Temos o compromisso de apresentar ao mundo apresentemos ao Mundo o Rosto misericordioso de Deus!
Por fim, vivendo na atmosfera Ano da Vida Consagrada estamos realizarmos este Primeiro Encontro com os Irmãos Egressos é graça. É graça que nos ensina o valor da nosso reaproximação. De estreitarmos os nossos laços. Refazermos nossas forças e até mesmo matar a saudade dos nossos conventos. Mas, sobretudo, continuar nossa caminhada de santidade.
Esta crise econômica, política, os inúmeros escândalos, a guerra pelo poder, desrespeito pela religião, a corrupção, a pobreza, imposição na escolas da questão de gênero, legalização do aborto, legalização das relações homoafetivas, descaracterização da Família... enfim, a atual conjuntura babilônica em que nós, brasileiros, vivemos é reflexo da falta de Santos.
Os santos são os verdadeiros interpretes da Sagrada Escritura. O que a Palavra de Deus significa torna-se principalmente compreensível naqueles homens e mulheres que foram totalmente tomados por Ela e a vivem. Nosso Seráfico entregou-se na promessa desta Palavra em toda a sua extrema radicalidade. Até o ponto de se despojar das suas vestes e se deixar revestir pelo bispo como o representante da bondade paterna de Deus, que veste os lírios do campo com mais beleza do que a de Salomão (Mt 6,28).
E nos mais de 800 anos depois da sua passagem corporal entre nós, São Francisco de Assis carece estar mais vivo do que nunca entre nós. Seus Ideais, Ensinamentos, Fé, o Amor para com toda Criatura, Respeito à natureza, o conhecimento de Deus, a Paz e a Justiça, precisam continuar vivos através de nós e em nós.
Pois, numa sociedade onde prevalece um individualismo muito forte, o hedonismo, onde os laços fraternos se desfazem com muita facilidade, onde as pessoas são como objeto conectáveis e descartáveis, as relações são frívolas a mensagem do Pobrezinho de Assis se torna cada vez mais necessária e urgente. Certamente, aquele que se fez irmão de todos tem muito a nos desafiar.
Os desafios nos desconcertam e incomodam. Faz-nos repensar, desperta o desejo de reconstruir nossa Igreja, nosso mundo e a nós mesmos. Preparemo-nos para enfrentar o desafio de caminhar no mundo na Presença Divina, com seu Bem-Amado, na qualidade de discípulos de Francisco e Clara, exemplos de presença que incomoda, fomos e somos escolhidos por Jesus para o tempo de hoje conforme a Assembleia Geral da TOR in 2009.
Por desafio, apresento-lhes duas questões:
Como Francisco, digamos e que não seja uma frase feita: Vamos começar porque até agora pouco ou nada fizemos. E que de coração e não trivialmente, nos sintamos admoestados por ele: “Irmãos, todos prestemos atenção ao Bom Pastor que, para salvar suas ovelhas, suportou a Paixão da cruz. As ovelhas no Senhor seguiram-no na tribulação e na perseguição, na vergonha e na fome, na enfermidade e na tentação e em outras coisas mais e a partir disso receberam a glória eterna” Daí, é grande vergonha para nós, servos de Deus, que os santos tenham feito as obras, e nós, proclamando-as, queiramos receber a glória e a honra (Adm n.VI).
Sintam-se todos acolhidos, pois o coração da Província é como um coração de mãe boa e generosa como o de Nossa Senhora da Piedade: acolhe a todos para a todos colocar no Coração de Deus.
Paz e Bem!
Agradecimento:
O Senhor te abençoe e te guarde,
Mostre a ti o seu rosto e tenha misericórdia de ti.
Volte para ti o seu olhar e te dê a paz.
Neste domingo(16), 13 frades egressos da Bahia e Sergipe se encontraram para recordar sua vida passada e partilhar a atualidade.
Hoje, os ex-frades moram em diversas regiões, muitos hoje são casados e tem filhos, outros são padres diocesanos, e desempenham diversas funções em várias aréas.
Os participantes agradecem, de forma unânime ao tempo que passaram na Vida Religiosa. Segundo Eugênio "[...] no convento só aprendi coisas boas[...]", para Salomão, esta é um boa iniciativa, e ele espera que seja somente a primeira de muitas outras.
O Padre Luiz Orlando, da Diocese de Camaçari, citou que "será sempre frade" e se emociona ao ver todos reunidos, e se recorda com amor de tantos momentos bons que passou na vida religiosa Capuchinha.
O evento começou às 8h, com oração ministrada por Frei Elton Caires, OFM.Cap, e segue com fala dos egressos. Após reflexão e fala do Ministro Provincial, Frei Liomar Pereira da Silva, OFM.Cap, e de um dos organizadores Frei Jorge Rocha, OFM.Cap, o encontro será concluído com Celebração Eucarística (11h), presidida pelo MP.
Fonte: Capuchinhos do Brasil /CCB
Por Frei Elton Caires Santos (Cúria Provincial)