Dimensão Bíblica da Missão
Gestão significa gerenciamento, administração, é aplicada em relação a uma instituição, uma empresa, uma entidade social de pessoas, etc... As instituições podem ser privadas, sociedades de economia mista, com ou sem fins lucrativos A gestão é um ramo das ciências humanas porque trata com grupo de pessoas, procurando manter a sinergia entre elas, a estrutura da empresa/instituição e os recursos existentes. Fala-se hoje de gestão administrativa, gestão de pessoas, gestão de projetos, gestão ambiental, etc...
A gestão surgiu quando após a revolução industrial, os profissionais decidiram buscar solução para os novos problemas, usando vários métodos científicos, para administrar os negócios da época o que deu início a ciência da administração.
A gestão administrativa, além da técnica de administrar, se utiliza de outros ramos como o direito, a contabilidade, economia, psicologia, matemática, estatística, sociologia, informática, entre outras. A gestão de pessoas é parte essencial da gestão administrativa.
O conceito de Gestão de Pessoas ou administração de recursos humanos (RH) é uma associação de habilidades e métodos, políticas, técnicas e práticas definidas, com o objetivo de administrar os comportamentos internos e potencializar os valores humanos que existem nas organizações. A Gestão de Pessoas ocorre através da participação, capacitação, envolvimento e desenvolvimento de funcionários de uma empresa, e tem a função de humanizar as empresas, mas é aplicada também em outras instituições.
Muitas vezes, a gestão de pessoas é confundida com o setor de Recursos Humanos, mas RH refere-se à técnica e os mecanismos que o profissional utiliza. Gestão de pessoas tem como objetivo a valorização dos profissionais, dos agentes. Em uma empresa, a gestão de pessoas deve ser feita pelos gestores e diretores, porque é uma área que requer capacidade de liderança.
O setor de gestão de pessoas possui uma grande responsabilidade na formação dos profissionais, e tem o objetivo de desenvolver e colaborar para o crescimento da instituição e do próprio profissional.
As funções do gestor são, em princípio, fixar as metas a alcançar através do planejamento, analisar e conhecer os problemas a enfrentar, solucionar os problemas, organizar recursos financeiros, tecnológicos, ser um comunicador, um líder, dirigir e motivar as pessoas, tomar decisões precisas e avaliar, controlar o conjunto todo.
Existe também a gestão de projetos consiste em um grupo de medidas ou iniciativas temporárias, que vão contribuir para o desenvolvimento de um produto ou serviço. É possível identificar cinco fases da gestão de projetos: início, planejamento, execução, monitoramento e controle e conclusão.
A gestão ambiental é uma área relacionada com a sustentabilidade e planejamento ambiental e aborda a vertente econômica, social e ambiental das atividades empresariais. É uma área profissional cuja visibilidade tem aumentado bastante, fruto da crescente conscientização ambiental por parte das empresas.
A dimensão Bíblica tem a ver com o modo como Deus gere o seu povo ou realiza a cogestão a caminho da plenitude dos bens. Segundo a revelação não se trata de gestão de bens, mas de gestão de pessoal em vista do único bem: a felicidade, a realização plena.
A primeira e principal missão da liderança da VRC é a gestão de pessoas, com um foco bem especifico que é a obtenção da melhor qualidade integral em vista de uma profunda comunhão com o Plano Divino da criação e da salvação. Trata-se de orientar a ação, a convivência e a missão para a plenitude da vida (Vida Eterna). Não se trata só de gerir pessoas, mas ajudá-las a na gestão de suas virtudes especificas e da consagração a Deus. Tal realidade que está intimamente ligada a uma causa sempre maior que a pessoa e tudo o que lhe diz respeito exige uma cogestão: Gestor, geridos e Deus.
Tratando da dimensão bíblica da gestão podemos dizer que o grande gestor é Deus que sempre na história serve-se de cogestores aos quais confia muito e por eles se arrisca. Segundo o autor de Hebreus o fio condutor da cogestão, na história da salvação, chama-se fé (Hb 11,1.3.4.5.6.7..7.8.9.11.13.17.20.21.22.23.24.27.28.29.30. 31.33.39). Podemos também dizer que Jesus é por excelência o gestor do Pai (Jo 6,37-40).
Alguns textos que podem ser trabalhados: Gn 12,1-5; Gestar a própria vocação. Gn 22,1-19; Gestar o objetivo principal de sua vida. A capacitação de gestores para desafios maiores Is 6,1-13. A assembleia memorial, um modo de gestão Js 24,1-28. A casa do oleiro Jr 18,1-12. A gestão da piedade Mt 6,1-24.. Ver ainda a tentação da má gestão Lc 4,1-12; O Bom gestor (Jo 10,1-18: Mc 9,30-40; 10,32-45; Mt 25,1-46).
Paradigmas de gestão. Vamos tomar dois líderes paradigmáticos, um do Primeiro Testamento: Moisés, e um do Segundo Testamento: Jesus. A Gestão liderada por Moisés tem como fonte Deus e como meta tirar o povo da escravidão e conduzi-lo para a Terra Prometida (cf. Ex 3,7-10). A gestão liderada por Jesus tem como fonte o Pai e tem como meta dar pleno sentido à vida desde agora rumo à eternidade. Moises lidera um processo de saída da opressão. Jesus líder um processo de plenitude da criação. No processo de libertação liderado por Moisés se trata de livrar-se de algo imposto de fora, que na verdade, já está internalizado, por isso, a demora de mais de quarenta anos. Moisés guia o povo da liberação do Egito para a possessão da Terra que corre leite e mel (Ex 3,8; 33,3), enquanto Jesus guia os discípulos para um despojamento (uma des-possessão) total, não para alcançar, mas para ser a Terra Prometida (cf. Jo 15,5.16). No processo liderado por Jesus trata-se de livrar-se de algo que habita o interior de cada pessoa, é a tendência a fazer-se o centro de tudo. Jesus exercita com seus discípulos um processo de libertação interir. Não se trata só de libertar, mas libertar para que? Depois da libertação é necessária uma dinâmica de doação, de entrega de si mesmo/a, sem reservas, até nada reter. “Ele (Jesus), que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim (extremo) ” (Jo 13,1). “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele fica só, mas se ele morrer produzirá fruto em abundância” (Jo 12,24).
1) A gestão de Deus no problema da escravidão do Egito (Ex 2,11-3,18). Realidade: sofrimento gerado pela opressão da autoridade. Reação: clamor. Desafio: transformar os clamantes em autores da própria libertação. O chamado: Moisés que já tem a consciência, mas não tem discernimento. A gestão dele mesmo é parceria, um trabalho vocacional realizado com o tu que é Javé. Trabalho este que passa por várias etapas.
1) A rebeldia contra o modo de proceder dos egípcios (os outros). É um modo onde prevalece a força que se impõe pela violência (Ex 2,11-12). Muitos continuam agindo assim. Nós, em geral, queremos impor pela Lei e chamamos isso de justiça. Jesus nos ensina a nos dispor pelo amor (Ninguém tira a minha vida. Eu a dou livremente .... Jo 10,18 e 15,13).
2) A incapacidade de gerir as querela internas: “Quem te estabeleceu chefe e juiz entre nós” (Ex 2,14)? As ameaças: “Pensas que vais me matar como mataste o egípcio” (Ex 2,14)? Eu não sou outro (egípcio) eu sou você (irmão). É fácil tomar decisão contra os outros, difícil e tomar decisão sobre si mesmo. Principalmente quando se trata de correção. Moisés não pode usar o mesmo método que usou com o egípcio, é acusação do hebreu, mas o hebreu está usando de violência com o próprio irmão. Acabar com o inimigo é fácil, difícil é acabar com o irmão. Então transforme o irmão em inimigo e mate-o. A culpa (Ex 2,14). Moises ficou com medo, pensando que o caso já fosse conhecido de todos (Ex 2,14). Ele precisa encontrar um jeito de se proteger. A ameaça do hebreu colocou medo dentro dele. Moisés sentiu-se fraco e desistiu da gestão dos conflitos, da conciliação. O modo mais comum de fugir é demonizar o outro para poder eliminá-lo sem culpa, ou então, vitimizar a si mesmo.
3) A fuga: O faraó procurou matar, mas Moisés fugiu (Ex 2,15). “Que daria o homem em troca de sua vida” (Mc 8,37)? A ameaça de morte matou a solidariedade no interior do gestor. Da tentativa de solidariedade para o completo isolamento no deserto. Que mudança!
4) O deserto: Chegou o momento da maturação do gestor. Deserto é tempo e ambiente propicio para o auto confronto. Ele ainda não havia sido desafiado o suficiente para deixar de confiar nas próprias forças e na própria ciência. Para ser um bom gestor é necessário superar a dicotomia: eu (nós) X ele (os outros). Os outros são necessários para que nós melhoremos e nossa melhora será benéfica para os outros. A solidariedade para com as mais fracas (as mulheres) do deserto lhe rendeu a hospitalidade, grata expressão de reciprocidade (Ex 2,16-17)? Pode ser, mas também pode ser para Jetro, um investimento no futuro da própria família. Como quer que seja, Moisés fez com que as últimas fossem primeiras, mas de novo, se impôs pela força. E, não podendo fazer do povo sua família, estabelece a própria família. Não podendo liderar nossa comunidade=fraternidade, criamos o nosso mundinho e/ou nosso grupinho.
Moisés abandonou o Egito e seus irmãos nele, mas Deus tomou partido (Ex 2,22-25). O partido de Deus em favor dos oprimidos não é para acabar com os opressores, mas com a opressão. O Egito precisa ficar um tempo sem servos para sentir o quanto o servo é importante, necessário (Ex 3,18 e 5,1). Experimentar a carência é importante recurso pedagógico para despertar e tomar consciência da verdade e desfazer as ilusões viciadas. Adorar a Deus no deserto é sair do domínio do Faraó e colocar-se sob o domínio de Javé que não lhes exige trabalhos forçados, mas convivência fraterna.
O discernimento vocacional de Moisés, fundamento para uma boa gestão (Ex 3,1-4,17). Atração, chamado, missão. O maior trabalho é da conformação ao chamado em vista da missão:
Quem sou eu? É o necessário autoconhecimento? Como posso saber o que é meu se não me conheço. E como posso me conhecer se não aceito confronto com o tu? Parece que Moisés tem preconceito de si mesmo (Ex 3,11); será mesmo verdade? A consciência das próprias condições diante da realidade não pode levar ao pessimismo. Também não se pode alegar incapacidade para fugir dela. Fugir da realidade a qual estamos inseridos é também fugir de nós mesmos. A realidade nua e crua é o campo da ação transformadora. Discernir e gerir um potencial em consonância do bem próprio com o bem comum é o caminho a ser trilhado. Quantos problemas nunca encontram soluções porque insistimos em sair pela tangente.
Quem és tu, qual é teu nome? Em nome de quem vamos? (Ex 3,13). Moisés não está sozinho, ele conta com Javé. O sim à missão é uma profissão de fé em Deus. Mas a prova da fé se realiza com a inserção no mundo real em vista de um mundo humanizado, onde a convivência respeitosa e harmoniosa seja possível. Para a teologia Joanina o conhecimento, a relação e a confiança com o Tu (Deus) é fundamento de todo engajamento bem-sucedido. Tanto que mais lhe interessa ter clareza de ser enviado de Deus do que da tarefa a desempenhar[1].
Mas... eles não acreditarão (Ex 4,1)! Moisés já agiu em nome próprio e se deu mal. Agora ele precisa agir em nome de Deus, com a orientação de Deus. A realidade experimentada precisa ser transformada. Eles não creem em Moisés, será que vão acreditar que Deus apareceu a ele? É preciso encarar os preconceitos na gente e os preconceituosos fora da gente para se libertar de ambos. É velho ditado: “gato escaldado tem medo de água fria”. A vida, na verdade, é sempre um risco, mas é frequente deixar-se tomar pelo mede de ariscar. O discernimento vocacional não é suficiente numa relação bilateral, na verdade ele só será bem realizado na trilateralidade: Eu-Deus-povo: Eu-povo-Deus: Deus-eu-povo.
Por favor, manda outro (Ex 4,10)! Novamente, para Moisés as qualidades necessárias para gestar são umas, por isso se desculpa, mas para Deus são outras, por isso, Deus insiste. Nem Deus, nem o povo me convencem se eu não me abro para deixar-me convencer. O discernimento em Moisés é fundamental para que ele possa encarar os demais em sua longa e penosa jornada. Aqui o argumento é: tenho a língua pesada, não sei falar (Ex 4,10). Segundo o entendimento de Moisés saber falar é fundamental para a missão que o Senhor lhe pede, mas o Senhor mostra que o fundamental é saber formar equipe. “Não tens o teu irmão Aarão que tem facilidade em falar” (Ex 4,14)? Ninguém tem todas as virtudes para liderar, mas quem souber reunir e comungar as pessoas que se completam em suas virtudes, este ou está pode liderar, isto é, gerenciar.
Um aprendizado difícil na escola do sogro (Ex 18,13-27). Trabalhar em equipe e distribuir as atividades. A importância do observador de fora (Ex 18,13-14), o valor do conselheiro experimentado (Ex 18,17-23) e a maravilha da abertura à proposta dele (Ex 18,24-27).
A liderança de Moisés foi vitalícia, durou até a morte, mas nunca foi tranquila. A narrativa bíblica em Êxodo e Números nos apresenta mais de dez sérios conflitos onde a liderança de Moisés é contestada: Encurralados entre o mar e o faraó, a crise da escolha do caminho (Ex 14,10-18); No deserto, livres da opressão, mas oprimidos pela fome (Ex 16,1-5); Agora tendo maná, mas sem água, quando se supre uma carência aparece outra (Ex 17,1-7); No vazio de liderança, Moises sumiu na montanha. Será que morreu (Ex 32,1-35); Na saudade do Egito, panelas de carne para comer (Nm 11,4-23); No racha entre o grupo de líderes: Miriam e Aarão contra Moisés (12,1-16); diante da decepção com a realidade da Terra Prometida. Nomeemos um novo chefe e voltemos ao Egito (Nm 14,1-9); A revolta de Coré com a adesão de 250 líderes de tribos (Nm 16,1-11); Revolta de Datan e Abirâm, linhagem de Rubens (Nm 16,12-15); Revolta dos outros contra o castigo que Moisés impôs aos revoltosos (Nm 17,6-15); Revolta dos sacerdotes (Nm 18,8-20). Em 40 anos de caminhada temos em média uma revolta a cada quatro anos. Isto revela a animosidade que habita os caminheiros, a maioria das vezes, focada na falta ou escassez de recursos ou na metodologia de governar.
2) A gestão na instituição e na missão dos Discípulos (Mc 2,13-19. Mt 10,1-24 e Lc 10,1-16). Observemos a liderança de Jesus no chamado, no processo formativo e no envio de seus discípulos.
Para efeito de distinção é bom ter presente que para assumir o apostolado é necessário passar pelo discipulado, mas nem todos os discípulos se tornam apóstolos. O ideal seria que isso acontecesse, pois o apostolado é prova da maturidade do discipulado. Discípulo é o que vai atrás do mestre, apóstolo é o que vai à frente dele. Apostolo é aquele para o qual o mestre confia a própria missão. Jesus tem uma multidão de seguidores (Mc 3,7; 5,24), mas os discípulos (Jo 6,60-66) e discípulas (Lc 8,1-3) não se confundem com a multidão, formam um grupo mais especifico. Jesus concede o mandato missionário a mais que doze. Em Lucas 10,1-12.17 são setenta e dois. Não podemos, portanto, reduzir a denominação “apóstolo” apenas aos “doze”. Paulo escrevendo a comunidade dos Coríntios reivindica para si essa denominação (1 Cor 9,1-5) e deixa transparecer que há outros, com certeza não está falando do grupo dos “doze”. É na condição de apóstolo que ele inicia suas cartas às comunidades (Rm 1,1; 1 Cor 1,1: 2 Cor 1,1; Gl 1,1, etc.). Certamente os “doze” são apóstolos, mas há apóstolos que não fazem parte do grupo dos doze (At 1,21-26). Portanto, discípulos constituem o grupo mais amplo dos seguidores de Jesus. Apóstolos constituem o grupo intermediário e “doze” constitui o grupo mais restrito.
Marcos. Ele não faz distinção em seu texto entre os discípulos e os “doze”, porque tem por objetivo mostrar a relação de continuidade entre a igreja para a qual está escrevendo e o Jesus histórico, com sua primeira comunidade.
Lucas. Faz distinção, aplica o conceito de apóstolo aos “doze”, mas amplia muito o conceito de discípulos (Lc 6,17.20; 10,22). Em seu segundo livro (Atos dos Apóstolos) identifica discípulo com crente em Cristo. Para ele a comunidade pós-pascal tem origem nos discipulado do Jesus histórico (At 6,1-7; 9,1.10.19.26.38; 11,26.29). Por isso, em Atos a palavra “discípulo” já não designa mais Pedro, Tiago, João, André..., mas os cristãos em geral.
Mateus. Também para ele, ser cristão equivale a ser discípulo de Jesus Cristo, mesmo que em alguns textos discípulo designe os “doze” (Mt 10,1; 11,1...) para ele discípulo é o tipo e paradigma do verdadeiro cristão (Mt 5,1, 9,36-37; 12,49; 28,19).
João. Ele nem se importa em fazer a lista dos “doze”, mas mostra também que Jesus tinha um grupo de discípulos mais vasto que João Batista (Jo 4,1) de modo que os fariseus reclamam “todos vão atrás dele” (Jo 12,19). Para João o fundamento de tudo é amar como Jesus amou (Jo 13,34-35; 15,12.17; 17,26).
A importância do discipulado segundo Jesus. Antes de exercer qualquer atividade, Jesus chama discípulos (Mc 1,16-20) e só depois disso, parte para a missão (Mc 1,21-39). Missão esta, que segundo Marcos, é acompanhada pelos discípulos até o Jardim das Oliveiras e pelas discípulas até a morte na cruz (Mc 15,40-41). Isto nos leva a concluir que formar discípulos é parte essencial da missão de Jesus, pois, sem eles, com a morte de Jesus a missão acaba. Onde Deus chama Moisés? No deserto do Sinai. Onde Jesus chama discípulos? Da beira do mar (Mc 1,16-20), da coletoria de impostos (Mc 2,13-17), da beira do caminho (Jo 1,43-44 Mc 10,46-52), etc... Já no chamado habita a missão, mas tudo é feito em etapas.
Para cada etapa uma nova consciência. Jesus já havia chamado Pedro, André, João e Tiago (Mc 1,16-20) e obteve deles uma resposta positiva. Há agora um novo chamado (Mc 3,13-19). Porque há uma nova função dentro da escolha já feita em resposta ao primeiro chamado. Eles fizeram uma escolha respondendo a um chamado, mas não tem ideia das novas decisões que ainda precisam ser tomadas para que sejam fiéis ao primeiro sim. O líder precisa ter presente esta realidade em relação aos seus liderados e torná-los conscientes, em cada etapa desse processo. A cada função, a cada serviço pedido, deve-se oferecer uma visão para que possam assumi-la com disposição. Liderar é antes um dom, uma graça, desenvolvida como expressão de gratidão de quem a recebeu. Aí está o grande desafio, ajudar a transformar a obrigação em gratuidade.
A visão do líder. Do líder espera-se que tenha e ofereça VISÃO: ampla, de conjunto, capaz de convencer e levar os liderados a participar dela com entusiasmo. Ninguém vai ter a visão que você tem se você não partilha, propõe, oferece. Mas, onde se pode conseguir tal visão? Marcos aponta para a montanha. Lugar de encontro com Deus para poder atuar na ótica de Deus. A montanha é um precioso símbolo bíblico.
Jesus é líder, ele sobe a montanha, contempla de lá as realidades. Desde a montanha adquire uma visão especial. Convida outros para participar dela, mas respeita a liberdade dos liderados. Ele chama na liberdade e espera uma adesão com liberdade. Para ter visão, Jesus sobe. Para oferecer visão, Jesus chama. Para participar da visão, os chamados respondem subindo para junto dele e assim, serem capacitados para a missão. Na montanha eles adquirem o olhar de Deus e, tomados de compaixão, descem de lá para a ação. Com a visão adquirida na montanha (macro) eles têm condições de atuar na planície sem se perder em detalhes (micro).
O custo da subida. Para subir é necessário tomar a decisão de mudar a posição, alargar a visão, divisar novos horizontes. Subir exige uma concentração de esforços; suar a camisa, desafiar distância e os obstáculos do caminho. Dizer sim é caminhar em direção ao chamado. É eleger o rumo oferecido. Mas para dizer sim é necessário ser atraído pela proposta. A primeira atração é o ganho pessoal. O que os discípulos ganham? Um novo e amplo horizonte, uma nova visão. O que oferecem em troca dela? Uma missão responsável e solidária. Eles precisam passar a frente à oferta recebida e acolhida. Esta é a lógica da dinâmica cristã. Passar a frente partilhando, de modo solidário, todas as conquistas, pois elas antes de ser um direito adquirido são um dom de Deus e, portanto, um dever de partilha.
Na verdade, todos, somos constantemente chamados a subir e todos precisamos descer. Subida e descida fazem parte do dia a dia da vida. Quanto mais alguém ganha, mais precisa se dar, por outro lado, quanto mais alguém se doa, mais se multiplica (cf. Jo 12,24). O chamado a subir é um desafio, mas é um convite aberto. Só quem acredita e se desafia consegue fazer caminho e ainda mais, superar os obstáculos dele, que são frequentes e reincidentes. Podemos imaginar, mas não temos a real ideia da visão que podemos obter no topo. Só indo até lá é que saberemos. Entre imaginar e realizar há um longo caminho a ser percorrido.
A liberdade. Jesus não subiu com eles. Subiu primeiro e então os chamou e também não chamou a todos, mas só “os que quis”. Está aí a liberdade de chamar. Por outro lado, a distância entre Jesus e os chamados caracteriza um espaço de liberdade para responder. Responde quem quer, mas quem responde sobe até Jesus que se encontra no topo da montanha. Respeitar o tempo e oferecer espaço de decisão para os liderados é muito importante, mas é preciso desafiar. Liderar é também desafiar. O tempo e o espaço são necessários para assimilar o convite. O mesmo se diga para assimilar a visão, para que ela se transforme em convicção e, dela brote a entrega à missão.
A missão: A missão tem duas vertentes necessárias e interdependentes. Uma não se realiza bem sem a outra. a) Permanecer com Ele (Mc 3,14). b) Enviá-los a pregar com autoridade para expulsar demônios (Mc 3,14-15). A convivência com Jesus dá vigor à missão que por sua vez leva a mais intimidade com Jesus. Sem convivência, oração, fracassa a expulsão (Mc 9,28-29). Permanecer com Jesus é condição fundamental para produzir frutos de justiça, de verdade e de amor. Para aprofundar o Permanecer ver João 15, 1-17. Ali a missão é produzir fruto, o que só acontece em comunhão com Jesus (Jo 15,4-5) e no exercício do amor mútuo (Jo 15,11-12.17). A permanência com Jesus capacita para o exercício da comunhão e o discernimento da anticomunhão.
Os Escribas nem percebem a presença de espíritos impuros na sinagoga. Diante de Jesus, porém, os espíritos se acusam, são expulsos e saem imediatamente (Mc 1,27). A autoridade de Jesus se impõe pela sua presença, pela sua vivência, pela sintonia com o Pai. Os espíritos não resistem à presença de Jesus, nem subsistem à palavra dele. Diante de Jesus tudo fica transparente. Isto é absolutamente novo e comprova a verdadeira autoridade, pois, esta distingue o mal e liberta dele as pessoas. Esta é a autoridade que ele passa aos discípulos.
A resposta dos discípulos é o engajamento, a inserção no mundo par o qual foram enviados: “Eles partiram e proclamaram que era preciso converter-se. Expulsavam demônios, faziam unção com óleo e muitos ficavam curados” (Mc 6,12-13). Saborearam os furtos da entrega. “Os setenta e dois voltaram cheios de alegria, dizendo: Senhor, até os demônios nos são submissos em teu nome” (Lc 10,17)! Jesus insiste no foco: “Não vos alegrei porque os espíritos vos são submissos, mas alegrai-vos porque os vossos nomes estão escritos no céu” (Lc 10,20).
O Líder precisa ter clareza de sua missão e não confundir-se com os liderados. Enquanto Jesus faz milagres, cura doentes e expulsa demônios, os discípulos não têm dificuldades, porque a atividade de Jesus corresponde às expectativas deles. O único pequeno desapontamento que encontramos aí, facilmente superado é o narrado em Mc 1,35-39 onde os discípulos buscam a Jesus para continuar as atividades do dia anterior e ele, não só não corresponde, mas também não permite que eles voltem para a multidão que o espera.
As dificuldades vão aumentando quando Jesus fala do Reino de Deus. Aquela parábola do semeador não desceu para o coração dos discípulos porque tem coisa muito estranha, além de não corresponder à pregação tradicional, apresenta o contrário do que tinham aprendido sobre o Reino. A parábola deixa clara a necessidade de protagonismo das pessoas. Se as pessoas não se engajam, e não correspondem, o Reino não acontece. Deus oferece, mas é necessário que as pessoas queiram, adiram se engajem e ajam.
Na parábola o semeador é o mesmo para todos os terrenos. A semente é a mesma para todos os terrenos. Os terrenos são diferentes e os resultados são diferentes também, pois dependem dos terrenos. Jesus diz que o terreno são as pessoas (Mc 4,13-20). Então o resultado não depende de Deus, mas das pessoas. Nunca ninguém falou assim. Até aqui ninguém levou a sério a responsabilidade da pessoa humana no projeto de Deus. Parece que os discípulos estão seguindo Jesus com outra intenção, mas ele tem paciência e ensina em particular, com calma e com clareza. Mesmo em meio a tanta dificuldade Jesus toma tempo para eles e aprofunda o assunto (Mc 4,10-11.13.33-34).
Quando, no meio da multidão que se comprime, Jesus quer saber quem o tocou (Mc 5,31) os discípulos estranham e ficam contrariados, mas continuam o caminho. No deserto, acompanhados da multidão faminta (Mc 6,30-44) os discípulos querem uma coisa, mas Jesus os desafia a fazer outra. Em seguida os força a viajarem sozinhos (Mc 6,45-52). O conflito aumenta porque parece que os discípulos estão atrás de Jesus pelas vantagens que podem obter, mas Jesus começa a fazê-los protagonistas do Reino. Eles precisam se inserir-se engajar, atuar, protagonizar o Reino. Haja paciência e dedicação, um exercício e tanto.
Mais adiante, (Mc 7,17) Jesus precisa esclarecê-los a respeito da pureza. Eles têm dificuldade para passar da tradição judaica à novidade cristã. Esse problema vem desde Marcos 2,16 onde escribas e fariseus interpelam os discípulos porque o mestre deles come com fariseus e publicanos. Há uma sólida tradição de separação, mas Jesus apresenta um modo novo de inclusão. O discernimento acerca da forma e do espírito da tradição é uma séria questão a ser trabalhada. “Não entendeis que tudo o que vem de fora, entrando no homem não pode torná-lo impuro, porque não entra no coração, mas no estomago e vai para a fossa” (Mc 7,18)? “É de dentro do coração do homem que sai o que contamina o homem” (Mc 7,21). Segundo Marcos, Jesus conclui a primeira etapa do ensinamento dos discípulos com uma nova multiplicação de pães. Ele mostra que também dessa vez os discípulos não conseguem alcançar o desafio lançado por Jesus (Mc 8,1-10), pois em vez de ajudar Jesus a socorrer a multidão, querem despedi-la (Mc 6,35-36: 8,4-5). A segunda e decisiva começa por uma opção declarada pela pessoa de Jesus.
O elemento mais fundamental do discipulado. Jesus entra mesmo no ponto mais desafiador da formação dos discípulos a partir de Mc 8,27. Daqui para a frente ele vai se dedicar exclusivamente ao ensino dos discípulos, parece um esforço concentrado para o vestibular. Eles precisam dar um passo largo, um passo novo, um passo transcendente. Eles precisam intuir a humanidade que existe no interior de Deus. O Reino não se entende e não se faz sem essa humanidade, é impossível construí-lo rejeitando-a. A pergunta que Jesus dirige aos discípulos é fundamental: “E vós quem dizeis que eu sou?” (Mc 8,29). “Tu és o Cristo” (Messias), responde Pedro por eles. Eles precisam ter uma opinião pessoal sobre Jesus, mas isso ainda não é suficiente. É necessário que a opinião deles, corresponda a realidade.
Jesus, agora, precisa torná-los cientes do tipo de “messias” que ele é, e como vai operar sua “messianidade”. Aí se encontra o grande nó. Superando isso, com certeza, tudo vai deslanchar normalmente. O fato de ele ser “O Messias” não o livra da rejeição por parte das autoridades (anciãos, sacerdotes e escribas), não o livra da morte, mas garante e ressurreição. Pedro que em nome dos discípulos o proclamou Messias, agora rejeita a revelação que ele faz. Não dá para aderir Jesus pela metade, pegar só a parte que nos é agradável. Jesus é total, a pessoa é total, precisa ser acolhida por inteira. Não é possível crescer sem enfrentar e superar a crise, sem enfrentar o sofrimento, sem agarrar os desafios. Não se enfrenta o mal com as armas do mal, mas com os instrumentos próprios do bem. À rejeição Jesus responde com a autoentrega.
Não por nada, Jesus fala de sua paixão, morte e ressurreição por três vezes exatamente aqui, onde tira tempo para a formação deles (Mc 8,31-10,34). Ou os discípulos entendem isso ou a missão não vai deslanchar. Está difícil entender um messias sofredor, preso rejeitado por todas as autoridades, matado, para no terceiro dia ressuscitar (Mc 8,32-33).
Jesus não pede uma adesão de fé sem oferecer condições. Por isso oferece uma oportunidade de alargar os horizontes da fé, da consciência e do conhecimento, na montanha da transfiguração, quem sabe que com isso Pedro e os companheiros possam entender Jesus profundamente, parece que até agora só ficaram na superfície. Quem não se habilita ir além da figura não pode ver Deus na gente, nem o criador nas criaturas. O reconhecimento de Deus em Jesus se amplia com o exercício da missão de Jesus por parte dos discípulos expresso na frustrada expulsão do espírito impuro (Mc 9,28-29).
Vem aí a segunda tentativa Mc 9,30-32, onde Jesus deixa claro que sua entrega não será só às autoridades de Jerusalém, mas aos pagãos, na verdade, a todos os povos. Os discípulos continuam sem entender e reagem a seu modo. Já que Jesus teima em morrer, é preciso pensar seriamente num substituto. Quem deles será mais apto? Mc 9,34. “Rei morto, rei posto”. Sempre funcionou assim em todos os lugares na história. A verdadeira questão, porém, não está em substituir Jesus, mas em aderir a Jesus e assumir sua causa. Para entender Jesus é necessário sair do mundo em que estão e se abrirem para novos horizontes, novos paradigmas, novas relações. Afinal, é Jesus que não se explica direito ou são os discípulos que não estão abertos a novidade? A resposta é evidente. Jesus continua o seu duplo magistério (Mc 10,10-12.23-24).
Depois disso parece que a coisa piorou.
a) Eles impedem as crianças de se aproximarem de Jesus. Os mestres judeus ensinam a evitar a companhia de mulheres e crianças, segundo eles é perda de tempo e de dignidade. Mestre que se preze não aceita tais companhias, por isso os discípulos vetam o acesso dessas pessoas a Jesus. Eles não conseguem entender que Jesus é mestre, mas seu mestrado tem outro alcance e acontece em dimensões muito diferentes das tradicionais (Mc 10,13-16). Jesus não é mestre que se isola para preservar o seu mestrado, mas que se insere para aplicar aprofundar e partilhar o próprio mestrado.
Em nossa sociedade a relação entre adultos e crianças oscila entre o desprezo e o endeusamento. Necessário se faz encontrar o equilíbrio. A criança precisa aprender com o adulto, mas também o adulto precisa aprender com a criança. Há algo na criança que nunca pode ser perdido. “Deixai as crianças virem a mim. Não as impeçais, pois delas é o Reino de Deus” (Mc 10,14).
b) Pedro deixa de lado o medo e a modéstia e vai direto ao ponto: Que recompensa esse seguimento vai ter (Mc 10,28-31)? Jesus admite que a recompensa é imensa. Se a doação for total a recompensa também será plena, mas volta a tratar do tema espinhoso: sofrimento, condenação, zombarias, morte e ressurreição (Mc 10,32-34).
Nesta sociedade cada vez mais consumista, competitiva e comercial, as relações estão tomadas por buscas de vantagens. Está cada vez mais difícil olhar, ver, sentir, pensar e agir integralmente/holisticamente. A realidade não tem só dois lados, têm muitos. Precisamos trabalhar a diversidade, uma relação mais integral, mais inteira, mais total.
c) Tiago e João querem os primeiros lugares. Novamente a reação deles não corresponde. Enquanto Jesus entrega a própria vida os discípulos disputam cargos e posições entre eles (Mc 10,35-45). Estão realmente longe de entender Jesus. Mas até hoje, depois de dois mil anos de discipulado a dificuldade continua. Jesus proclama a lição “Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam e seus grandes as tiranizam. Entre vós não será assim: ao contrário, aquele que dentre vós quiser ser grande seja o vosso servidor e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos” (Mc 10,42-44). Isso caracteriza, evidentemente, um posicionamento político que as comunidades eclesiais não conseguem fazer valer nem em seu próprio interior. Jesus justifica sua posição com o próprio objetivo: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). A primeira pergunta que precisamos fazer quando entramos numa relação não é: o que vamos ganhar? Mas como e com que podemos contribuir, dar?
d) um grupo quer impedir o cego achegar-se a Jesus. Esta parte encerra-se em 10,46-52 onde os acompanhantes de Jesus tentam impedir que o cego se aproxime dele, mas a decisão do cego, que sabe exatamente o que quer, supera os obstaculizadores e contempla o que busca. Está claro que os mais próximos a Jesus fazem o contrário do objetivo dele. Eles devem facilitar e não dificultar, o acesso à Jesus, porque Jesus não é de um grupo de discípulos, é de todos, veio para todos. Mais adiante (Mc 14,3-9) reprovam a atitude da mulher que derrama todo o perfume em Jesus.
Há uma grave confusão entre uma relação de pertença e uma relação de posse. Pertencer é dar-se, intercambiar-se, colocar-se em comum. Possuir é apropriar-se, reter, acumular, capitalizar, impedir a circularidade.
O discipulado exige adesão total ao mestre. O Messias glorioso é também o crucificado. Não há como separar. Basta observarmos as pré-condições para segui-lo (Mc 8, 34-35): Primeiro, negar-se a si mesmo isto é, despojar-se, relativizar-se, abrir mão de si mesmo (isso nada tem a ver com complexo de inferioridade, baixa estima, etc...). Segundo, tomar a própria cruz, isto é, assumir-se na condição de despojado, tomar-se nas próprias mãos. Terceiro desinstalar-se, pôr-se a caminho, andar. Só uma pessoa que toma tais atitudes tem condição de seguir Jesus, do contrário, o seguimento dele será por conveniência ou para fazer Jesus seguidor de si. Há muitas pessoas chorando par que Jesus faça a vontade delas.
Encarando as autoridades. A partir do capitulo décimo primeiro Jesus encara os adversários do projeto do Reino e os discípulos simplesmente acompanham. O ensino de Jesus acontece agora no Templo e é para todos os que nele se encontram: “Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos, mas vos fizestes dela um covil de ladrões” (Mc 11,17). “Como podem os escribas dizer que o Messias é filho de Davi se o próprio Davi o chama de Senhor? (Mc 12,35 ver 14,49)”.
Por último, Jesus os encarrega da preparação da páscoa (Mc 11,1, 14,12-16), na qual vai se entregar totalmente aos seus (Mc 14,22-25). Conclui o ensino dos discípulos junto ao cofre do Templo (Mc 12,41-44) quando os faz aprender com a pobre viúva o que é fazer uma grande oferenda.
A dinâmica do caminho. Os mestres gregos e judeus ensinam sentados, o mestre Jesus ensina andando pelos caminhos. Enquanto caminham de um povoado pra outro, ele vai instruindo os discípulos, enquanto trabalha vai ensinando. Isso tem um duplo significado o primeiro é físico, deslocamento geográfico que demonstra a necessidade de ir ao encontro das pessoas, aprender a ver as necessidades e levar as novidades. O segundo significa o avanço na compreensão do mistério do Reino de Deus, tanto intelectual, quanto espiritual e afetivo.
O discípulo de Jesus é uma pessoa que está sempre a caminho, sempre em aprofundamento e atualização. É uma pessoa do presente está sempre inteira no lugar que se chama aqui e no tempo que se chama agora. O dinamismo do Espírito o faz sempre gente do presente, gente inteira e nova. É preciso manter-se no dinamismo do Espírito, ser gente da atualidade. Se hoje eu estiver no mesmo lugar que ontem estarei fora de lugar, defasado e sem condições de responder aos apelos do Espírito que é de ser protagonista do Reino.
“Segue-me” (Mc 1,17 e “vão pelo mundo inteiro” (Mc 16,15) são, em Marcos, a primeira e a última, palavras de Jesus dirigidas a seus discípulos. Toda a vida deles se situa dentro dessa realidade: A graça que chama:“segue-me”, é a mesma que compromete com a missão. Por amor a Cristo, o discípulo larga tudo para um compromisso exclusivo com a pessoa e a causa de Jesus, subvertendo tudo o que até então era fundamental. Podemos denominar esta nova aventura do discipulado como “chamado da graça|” para estar com Jesus e “mandato gracioso” para transformar o mundo a partir de suas estruturas, em nome do mesmo Jesus, agora ressuscitado.
O mistério da interação entre o mestre e o discípulo nas origens da igreja está de igual modo presente na Igreja de hoje. “Os discípulos então saíram e pregaram por toda a parte. O Senhor os ajudava e, por meio dos sinais que os acompanhavam, provava que o ensinamento deles era verdadeiro” (Mc 16,20).
[1] Cf. M. Casagrande, O Segredo do Evangelho, Estef, Porto Alegre, 2011. P.90.