Franciscanismo: Sobre a morte
Todos nós temos certa resistência quando somos convidados a meditar sobre a morte. Quanto mais quando não é a morte alheia, mas a nossa. Muitos santos da Igreja meditaram esse mistério. São Francisco de Assis chegou a dizer:
Louvado sejas, ó meu Senhor,
por nossa irmã a Morte corporal,
à qual nenhum homem vivente pode escapar.
No primeiro momento, quando lemos esta oração, pensamos que todo santo carrega em si um pouco de loucura. Como pode alguém louvar o Senhor pela morte? Pois é assim. Hoje em dia fica ainda mais difícil imaginar isso para nós. Não queremos sofrer. Queremos permanecer sempre em estado tranquilo, alegres, sem perturbações. Bom, querer ficar bem não tem nenhum problema. Entretanto, não podemos nos enganar. O sofrimento e a limitação fazem parte da vida do ser humano. Assim, também a morte faz parte da vida.
Mas o que leva alguém como São Francisco louvar a Deus pela morte? É pela fé. Somente por uma vivência profunda do Mistério de Deus em Jesus Cristo que isso se torna possível. A fé não nega a morte, mas a assume e a vence. “É verdade que a morte continua a existir como realidade biológica, mas ela perde sua dimensão escatológica como um poder que separa de Deus. (SCHNELLE, 2010. p. 559). Se negássemos a morte pela ‘fé’, isso não seria fé, mas ilusão.
“Mas, em tudo isso, somos mais que vencedores,
graças àquele que nos amou” (Ro 8,37).
A vitória da morte e do pecado é pela transcendência deles. Isso se deu na ressurreição de Jesus Cristo, o Primogênito. A ele nos igualaremos. Mas tal revelação começa não após a morte biológica, e sim, aqui e agora. O Evangelho não está lá no passado e nem somente no futuro. Ele também é presente. Pois, caso contrário, estaríamos limitando a revelação. E como podemos limitar tamanho amor que Deus revelou para nós em Cristo Jesus?
Pela fé em Jesus Cristo, morto e ressuscitado, temos a salvação que nos leva para um novo mundo, onde podemos compreender a vida e a morte. Pela graça somos fortalecidos para transcender as limitações dessa vida e poder como Francisco de Assis, louvar a Deus pela nossa Irmã morte corporal.
E igualmente perguntar como Paulo:
Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? (Ro 8,35).