Francisco a meditar encontra com o Crucificado
Escutamos na Legenda Menor de São Boaventura sobre Francisco, que “Tendo saído, certa vez, a meditar no campo, ao passar perto da igreja de São Damião, ameaçada de ruir pela demasiada velhice, entrou para rezar, movido pelo Espírito. Prostrando diante da imagem do Crucificado, encheu-se, na oração, de não pouca suavidade de consolação. E, ao olhar com olhos de lágrimas, para cruz do Senhor, ouviu uma voz, com os ouvidos do corpo, saindo da cruz para si, de modo admirável a dizer três vezes: “Francisco, vai reparar minha casa que, como vê, se está destruindo toda”.
“Movido pelo Espírito”. Ter isso em nosso coração ajuda a nos alegrar mais ainda, por saber que é Deus que nós chama por primeiro. No chamamento já está a graça. Deus presente, nos atraindo para si, revelando-se um Pai amoroso que nos cativa. Francisco está ‘afinando’, pois estava em oração. Em ‘atenção’, ‘na obediência’ (Escuta atenta).
Diante de tão grande graça, o pobrezinho de Assis se ‘prostra’ diante do Crucificado. É um amor que nasce do Amor. Acontece como que uma identificação, entre o amante e o Amado. Francisco está vazio de si e é tomado pela suavidade do Senhor. Quando mais ele se faz menor na oração mais o Senhor o toma para si.
‘Com os olhos em lágrimas’, diante da vivência com o Senhor, chora para além de um choro comum. São lagrimas do efeito da graça. Não são apenas sentimentos, é um estado de graça que vem do toque profundo de Deus no centro do coração de Francisco. Ele se torna todo ouvido, todo escuta, pois outra coisa não interessa. Seus pensamentos, sentimentos, imaginações, ou qualquer outra coisa que venha de si mesmo foi suspenso.
O Amado está presente e o pequenino de Assis, sente o início da união entre Dama Pobreza – Vazio de si mesmo – e o Altíssimo. Começa a perceber mistagogicamente, o quão doce é a abertura a Deus. Inicialmente entende a Igreja de pedra, mas aos poucos vai percebendo que a restauração começa por si mesmo, na abertura à Graça.