Cuidar de quem nos cuidou
Ver os pais envelhecendo é maravilhoso. Perceber o legado que uma geração passa à outraé provar o doce sabor que a vida oferece.
Os espaços já estavam devidamente preparados. Havia uma certa expectativa. Ambientes vazios sempre aguardam por alguém. A Casa São Frei Pio, em Caxias do Sul, que há tempo cuida da saúde dos frades, passou a ter uma nova ala destinada a idosos em situação de vulnerabilidade. Ao
todo serão 20 leitos. A manhã daquela terça-feira, um dia que parecia igual aos demais, se transformou num fato que mereceu registro histórico: a chegada dos primeiros idosos.
Alguns acompanhados por familiares, outros não. No olhar, a esperança e no corpo, as marcas dos anos vividos. Um misto de alegria e de emoção tomou conta de todos.
O enorme convento ampliava sua finalidade: cuidar de quem certamente cuidou dos outros.
O número de idosos tem crescido, enquanto que o número de filhos por família assinala uma sensível diminuição. Chegar ao entardecer da vida é algo natural. É um direito poder envelhecer dignamente. Ser cuidado está implícito na existência pessoal e familiar. Nenhum idoso atrapalha o ritmo de vida dos mais jovens. Pelo contrário, é uma presença que fortalece laços e confirma a história. O surgimento de casas que abrigam pessoas de idade avançada se tornou quase uma necessidade. Porém, os laços de afeto não deveriam jamais ser interrompidos.
Cuidar de quem nos cuidou é uma nobre missão. Oportunidade ímpar de retribuir tudo o que foi recebido. Em alguns momentos, as dificuldades até se intensificam, mas o amor filial é capaz de suportar até o que parece ser impossível. Ver os pais envelhecendo é maravilhoso. Perceber o legado que uma geração passa à outra é provar o doce sabor que a vida oferece. A convivência entre avós e netos é simplesmente fantástica, pois imprime jovialidade àqueles que já somaram algumas décadas de vida. No entanto, há casos bem mais exigentes, onde a presença de cuidadores se faz necessária.
A cultura do cuidado precisa ser recuperada. Há uma facilidade em terceirizar as obrigações mais corriqueiras. Muitos não querem ter incomodação, nem limitação da liberdade. Aproveitar a vida é o emblema mais badalado. Um dia, porém, as limitações da velhice alcançarão os que hoje vivem a jovialidade. Quem não cuidou dos seus, é bem provável que também não seja cuidado. Todos os filhos deveriam se preparar para ser, um dia, pais de seus próprios pais.