De 15 a 21 de abril de 2019, Frei Klenner Antonio da Silva (Província Brasil Central) e Frei Mateus Bento dos Santos (Província São Paulo) estiveram junto ao povo Terena das aldeias Tereré (Sidrolândia-MS) e Buriti (Dois Irmãos do Buriti-MS). Uma presença missionária junto aos indígenas durante a Semana Santa que este ano coincidiu com a Semana dos Povos Indígenas.
A semana foi repleta de atividades: visitas às famílias, celebrações, rodas de conversa com tereré, atividades na escola e na Universidade, apresentações culturais, festas, convivência fraterna entre irmãos capuchinhos e o povo terena. Momentos riquíssimos de aprendizado com aquelas pessoas que resistem para manter viva sua riqueza cultural.
Alguns elementos que podemos perceber presentes nas aldeias durante estes dias e que que em nossa sociedade vêm se tornando raridade são: valorização e respeito pela centralidade da família, independente de sua composição; a criação e formação das crianças para a liberdade com respeito e sem violência; mesmo numa sociedade patriarcal, os homens participam ativamente na educação das crianças; a inclusão natural das crianças, pessoas com deficiência e idosos em todas as atividades da comunidade; o respeito pela a opinião dos mais idosos (anciãos); todos os membros da família dão suporte aos adolescentes, não deixando que se sintam “perdidos” ou que precisem buscar apoio externo; a solidariedade e partilha – sempre há o que partilhar com os que chegam; a vida é simples e umbilicalmente ligada ao sagrado e à toda criação de Deus.
O povo Terena é um povo que vive muito próximo do mundo purutuye (não indígena). Algumas aldeias são dentro das cidades, como é o caso da Tereré; e outras muito próximas, como a Buriti. Muitos indígenas trabalham fora da aldeia e tantos outros estão cursando graduações, mestrados e doutorados em diversas Universidades. Há vereadores indígenas eleitos atuando nas duas cidades em que estivemos, incluindo um presidente da Câmara Municipal.
Esses exemplos mostram que o povo Terena é um povo de fácil relação cultural com o “mundo ocidental” e que é um povo de resistência, seja nos antigos moldes, seja nos novos modelos de resistência como a política, as universidades e diversas outras áreas. Logicamente que há muitas dificuldades de convivência comunitária e a influência externa, sobretudo política, que enfraquece muitos desses valores. Porém é um povo muito atento às realidades nacionais e às questões aos povos originários, sobretudo à demarcação de terras, à FUNAI, à municipalização da saúde indígena, às leis e direitos dos povos. É um povo consciente dos 519 anos de luta e resistência dos indígenas desse país.
Destacamos um momento emocionante na comemoração do dia do indígena, o depoimento de Joziel Gabriel, um terena que foi baleado por capangas de fazendeiros durante um processo de retomada de terras indígenas e está numa cadeira de rodas. Neste mesmo processo de retomada, Oziel Gabriel, primo de Joziel, também foi baleado e assassinado pela polícia. Fatos que marcaram muito esta comunidade e são trazidos à memória como sinal de luta e resistência.
Como o dia 19 de abril, dia de comemoração dos povos indígenas, foi sexta-feira santa, as festas maiores ficaram para o fim de semana. Muitas danças culturais, desfiles da beleza indígena, encenações, futebol, fala das lideranças e caciques e muito churrasco. Assim celebramos a Páscoa Terena. Agradecemos as Províncias pela oportunidade de estarmos juntos durante estes dias nesta missão e acolhida dos frades da fraternidade de Campo Grande e do povo Terena que nos recebeu em suas casas.
Por Frei Klenner Antonio da Silva (Província Brasil Central), Frei Mateus Bento dos Santos (Província São Paulo)
Fonte: Capuchinhos do Brasil /CCB
Por Paulo Henrique (Assessoria de Comunicação e Imprensa, São Paulo - SP)