Homilia do Domingo de Ramos / Frei João Santiago
Domingo de Ramos.
Mateus 21, 1-11
Naquele tempo, Jesus e seus discípulos aproximaram-se de Jerusalém ... Então Jesus enviou dois discípulos, dizendo-lhes: “Ide até o povoado que está ali na frente, e logo encontrareis uma jumenta amarrada, e com ela um jumentinho. Desamarrai-a e trazei-os a mim!” ... Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelo profeta: “Dizei à filha de Sião: Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado num jumento, num jumentinho, num potro de jumenta”. ... Trouxeram a jumenta e o jumentinho e puseram sobre eles suas vestes, e Jesus montou. ... As multidões que iam na frente de Jesus e os que o seguiam, gritavam: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!” ...
“Não temas, filha de Sião; veja que vem teu Rei montado em um jumento. Suprimirá os carros de Efrain e os cavalos de Jerusalém; será suprimido o arco de combate, e ele proclamará a paz às nações. Seu domínio irá de mar a mar e desde o Rio até os confins da terra” (Zacarias 9, 9-10).
A tão sonhada liberdade.
Em primeiro lugar, a profecia afirma o Rei será um Rei dos pobres, um pobre entre outros que conservam a fé e pelejam em humildade. “Assistindo” Jesus e sua entrada em Jerusalém, somos convidados, com fé e humildade, a afastar de nós a inveja, a avareza, a ânsia de riqueza e de poder. Desta maneira seremos agremiados ao seu Reino e realeza, e assim, granjearemos a “liberdade”. O nosso Rei que cavalga o jumentinho, e não o cavalo, nos fará livres.
No Domingo de Ramos aclamamos o Rei que nos indica o caminho para a meta da liberdade, Jesus, e lhe pedimos que nos leve consigo em seu caminho.
O tão sonhado Shalom de Deus.
Em segundo lugar, o profeta mostra-nos que este Rei será o promotor da paz: fará que desapareçam os carros de guerra e os cavalos de batalha, romperá os arcos que lançam flechas mortais e anunciará a paz. Na figura de Jesus, isto se concretiza com o sinal da Cruz. Vemos aqui a Cruz como um arco quebrado, como um autêntico arco-íris de Deus, que une o céu e a terra e estende pontes entre corações e povos divididos. A nova arma que Jesus põe em nossas mãos é a Cruz, sinal de reconciliação, sinal do amor que é mais forte que a morte. Cada vez que nós fazemos o sinal da Cruz, temos de nos lembrar de não responder à injustiça com outra injustiça, à violência com outra violência; temos de nos lembrar de que só podemos vencer o mal com o bem, sem oferecer mal por mal.
“Um jumentinho e o anticristo”.
- “O nosso rei está em meio a nós como aquele que serve” (Lc 22,27). O animal que Jesus se fez servir para entrar em Jerusalém é comumente chamado de “jumento de carga”, porque leva consigo o “peso” que os outros lhe carregam diariamente. São Paulo nos exorta: “suportai-vos uns aos outros”. O jumentinho é figura de Jesus, o Samaritano que toma sobre si o nosso peso (Lc 10,34).
- Por que o jumentinho e não um o cavalo? Sabemos que quando há reprodução gerada do cruzamento entre eles, se tem a mula. A mula é um animal estéril e sem “inteligência”. Cabe aos cristãos terem cuidado com o fermento dos fariseus. “Não se pode servir a dois Senhores. Não se pode servir a Deus e a Mammona. Ou quente ou frio, pois o morno será vomitado”. Dizer que se ama a Deus e ao próximo e ao mesmo tempo “cruzar-se” com segundas intenções, com malícias e em tudo querer tirar vantagem, é dizer que se cavalga o jumentinho e ao mesmo tempo cavalgar um cavalo. O resultado será perder a vida: “Quem quiser se safar de qualquer jeito vai perder a própria vida.
- Os cavalos eram usados em carros de guerra. O livro do Apocalipse descreve um monstro apocalíptico: tem chifres como um manso cordeiro, mas “fala” como um dragão (cf. Ap 13,11). Querer ser cordeiro e ao mesmo tempo imitar cavalos de guerra – que se matam por poder - nos deixa como monstros ou bestas apocalípticas.
- Não acatar o jumentinho, mas querer sempre cavalgar cavalos, andar montados na arrogância, vaidade e soberba desse mundo nos faz membros do partido do anticristo.
Tanto se fala do anticristo. O anticristo é simplesmente todo aquele que não reconhece o Messias, o Filho de Deus na carne de Jesus (cf. 1Jo 4,2s). O Messias é o ungido de Deus, é o poder maior entre nós. Esse poder maior veio em carne, isto é, em confiança, em humanidade, em falecimento que espera tudo mais do amor que é Deus. A aposta de fé que fazemos nesse Domingo de Ramos é que a “palavra final”, a justiça derradeira e a paz para toda a humanidade passam pelo método de Jesus, aquele método de cavalgar o jumentinho, não o cavalo.
Pai, perdoa-nos, porque muito frequentemente não sabemos aquilo que fazemos! Sobretudo quando usamos para o teu Reino exatamente o que teu Filho descartou como tentação, isto é, queremos te adorar e ao mesmo tempo viver abraçados com o revanche, a desforra, com o domínio, com o desrespeito, com a avareza, em abusando das coisas e pessoas, etc.
- Quando, finalmente, Jesus se torna nosso Messias?
O que é um “manto”?
O manto para o pobre é vestido e casa, cama e cobertor, o seu único bem. Por isto se proíbe de penhorar o manto do pobre: “Se for um pobre, porém, não irás dormir conservando o seu penhor; ao por do sol deverás devolver sem falta o penhor, para que ele durma com o seu manto e te abençoe” (Dt 24,12-13).
Qual o teu mais valioso bem?
Muitos, naquela procissão, deram a Jesus seu mais valioso bem.
“Trouxeram a jumenta e o jumentinho e puseram sobre eles suas vestes, e Jesus montou”. ... As multidões que iam na frente de Jesus e os que o seguiam, gritavam: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor!
Ora, deram seus mantos porque reconheceram Jesus como o máximo. Fizeram Jesus montar sobre seus mantos. Jesus teve mais valor do que mantos e vestes. Aqui Jesus triunfa, é a entronização de Jesus como Rei de nossos corações. Aqui se há, de verdade, glória a Deus.
- Se eles deram seus mantos é porque Jesus tornou-se o verdadeiro e duradouro manto para cada um deles. Pensemos nestas palavras.