Homilia do II Domingo do Tempo Comum - ano C / Frei João Santiago
II Domingo do Tempo Comum - ano C
(João 2, 1-11)
1."Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galileia, e achava-se ali a mãe de Jesus. 2.Também foram convidados Jesus e os seus discípulos. 3.Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: ‘Eles já não têm vinho’. 4.Respondeu-lhe Jesus: ‘Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou’. 5.Disse, então, sua mãe aos serventes: ‘Fazei o que ele vos disser’. 6.Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos judeus, que continham cada qual duas ou três medidas. 7.Jesus ordena-lhes: ‘Enchei as talhas de água’. Eles encheram-nas até em cima. 8.’Tirai agora’ – disse-lhes Jesus – ‘e levai ao chefe dos serventes’. E levaram. 9.Logo que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho, não sabendo de onde era (se bem que o soubessem os serventes, pois tinham tirado a água), chamou o noivo 10.e disse-lhe: ‘É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora’. 11.Esse foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galileia. Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele."
As bodas em Caná, ou seja, a grande festividade por motivo de um casamento, falam, na verdade, do casamento de Deus, o verdadeiro esposo, com o seu povo, a esposa Israel.
Jesus e Maria têm vinho, mas os demais não o têm: “Eles já não têm vinho”, disse Maria a Jesus. O velho Israel infiel ao Senhor esposo tinha se deteriorado em uma religião marcadamente centrada em meros ritos exteriores e vivia de uma espiritualidade marcada pelo circulo vicioso formado pela lei, pelo pecado e por tantas tentativas de purificação. De fato, faltava vinho, a graça, o amor a Deus, a alegria dos filhos de Deus.
Jesus responde a Maria chamando-a de “mulher”, isto é, esposa fiel do antigo Israel, e declara à sua mãe que não veio restabelecer antigas tradições, mas tem a nos oferecer uma vida nova, uma “Nova Aliança” (“Vinho novo em odres novos”): oferecer sua vida a todos que precisarem e quiserem, para além da prática de meros ritos.
Maria percebe que não tem mais vinho, o chefe dos serventes não percebe. Aqui temos uma forte crítica a toda liderança, especialmente a toda liderança religiosa que não presta atenção ao seu povo, que não tem “o cheiro das ovelhas”, e que insiste em esperar “Vinho novo de odres velhos”, não percebendo a falência da velha religião marcada por códigos de leis, códigos de pureza, que mantinham o israelita longe e distante de conhecer a graça e o amor de Deus. Dizemos isso porque, de fato, o chefe dos serventes julgou que o vinho era antigo e que estava guardado pelo noivo da festa: “Mas tu guardaste o vinho melhor até agora”.
Enquanto o chefe dos serventes nada percebeu, os discípulos creram em Jesus, começaram um novo caminho em suas vidas. Tenhamos cuidado, sejamos atentos, não façamos como o chefe dos serventes.
Naquele dia, Jesus manifestou a sua glória. Simplesmente não tinham vinho, e Jesus deu-lhes vinho. Por vezes buscamos a purificação em vista de acolher o amor de Deus. O Evangelho de hoje nos mostra que o caminho certo é acolher o amor de Deus, pois este amor purifica o homem. A glória do Senhor, portanto, é ver seus filhos amados, cheios do Espírito, inebriados do “vinho” que é Ele mesmo.
E a mãe? Ora, Maria aponta e nos ensina que Jesus é novo Moisés, aquele que nos dar a Nova Aliança: “Fazei o que ele vos disser”.
Diante de um casamento sem vinho, quando o amor acabou, Maria representa também aquela (pessoa, comunidade, Igreja) que quer acolher e que anseia pela vinda do “Novo”: “Eles não tem mais vinho", diz ela.