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Homilia do V Domingo do Tempo Comum - ano A - Frei João Santiago

Publicado por Frei João de Araújo Santiago | 08/02/2020 - 09:19

V Domingo do Tempo Comum - ano A Mateus 5, 13-16

 “Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Vós
sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que
salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora
e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar
escondida uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma
lâmpada e a coloca debaixo de uma vasilha, mas sim num candeeiro, onde
brilha para todos que estão na casa. Assim também brilhe a vossa luz
diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o
vosso Pai que está nos céus”.

- No livro do Êxodo encontramos uma passagem que fala do Santuário
como lugar onde se deveria arder sempre uma lâmpada: “Ordenarás aos
israelitas que tragam para o candelabro, óleo puro de olivas
esmagadas, a fim de manter acesa a lâmpada continuamente” (27, 20-21).
O Evangelho de São Lucas 12, 35 diz: “Estejam cingidos os vossos rins
e acesas as vossas lâmpadas”. O Santuário é o lugar onde acontece o
encontro do homem com Deus, lugar de paz, de reconciliação, de
harmonia, de superação dos pecados, das maldades.

- No Evangelho Jesus pede que o encontro com o divino aconteça não
mais no Santuário de pedra, mas no Santuário que é a comunidade, o
grupo de irmãos que vivem no amor de Jesus. Este Santuário vivo
irradia a luz do amor de Deus. Este Santuário tem uma diferença em
relação ao Santuário antigo: é um Santuário em movimento. O cristão e
a comunidade cristã recebem a missão de ir ao encontro dos homens e
mulheres desse mundo. E vai para salvar, salgar, iluminar, tirar da
ignorância, das trevas, do medo, da falta de fé, de esperança e de
amor. É Jesus revelando que nós cristãos somos a “marca”, a garantia
de que tudo que ele ensinou, de fato, pode, sim, se tornar real. Que
maravilha: eu, você, nós, salgando o mundo, dizendo que a paixão,
morte e ressurreição de Jesus não é uma fábula, mas uma presença viva
no meio de nós a tal ponto que somos, realmente, pessoas felizes e
promotoras do bem em nosso meio.

- Nosso Senhor faz questão de se deixar encontrar nos seus discípulos,
e estes discípulos devem ir ao encontro de todos os homens e mulheres
e estes homens e mulheres devem sentir-se acolhidos pelos discípulos
de Jesus.

- É verdade! Por vezes tememos e por isso nos refugiamos em nossa lar,
com os nossos amigos mais próximos e em nossa comunidade cristã.
Vivemos sem nos preocupar tanto com o destino da criação e de tantos
semelhantes. O mundo é agressivo, competitivo, perigoso, mentiroso,
etc. Já o profeta Amós dava-se conta de um mundo que trocava as
pessoas por um par de sandálias. Como São Pedro tendemos a preferir
armar uma tenda no monte e lá permanecer. MAS.....   neste domingo a
Igreja lê para nós um Evangelho que nos instiga, nos pro-voca, nos
chama a uma fé madura e adulta, a uma prática de vida que salgue e
ilumine a terra dos homens. O Santo João Paulo II dizia: “O Evangelho
tem que se tornar cultura”. Grande esse desafio! Plasmar nossas
relações humanas, nossas famílias, nosso trabalho e recursos, nossa
educação, nosso coração, nossas empresas, nosso viver com o outro e em
sociedade segundo a lógica do Evangelho. Sem a força do Espírito, sem
a atração da Palavra a tendência é mesma aquela de viver a nossa fé de
modo intimista e que cada um se vire como possa.

- Degenerado, estragado, perdido. Palavras fortes! Pois é.... o mundo
sem sal e sem luz, os humanos sem sal e sem luz se tornarão
degenerados, estragados, perdidos. Não é por acaso que assistimos a
tanto descaso, a tanto egoísmo e indiferença, a tanta agressão
homicida e por palavras, a tantas drogas em nosso meio, a tantas
enfermidades do corpo e da alma. Para que a criação não se perca,
Jesus nos convida a salgar e iluminar a terra. Façamos nossa parte,
sejamos sal, sejamos luz.

- Jesus se dirige aos seus discípulos que lhes diz: “Vós sois o sal da
terra”.  O cristão que vive as “Bem-aventuranças” é um sinal, é sal,
garantia de como se pode viver e ser feliz. Quando vivemos assim,
somos os continuadores confiáveis da mensagem de Jesus e seu Reino, e
testemunhas de um caminho que leva à felicidade.

- "Mas se o sal perde o sabor, com que o salgaremos?”  Vale ressaltar
que Mateus usa o verbo “moraino” que não é perder sabor, mas
enlouquecer. Isso mesmo! Jesus disse: “Mas se o sal enlouquecer....”.
Quem é louco? É aquele que recebe o ensinamento de Jesus com muito
entusiasmo, mas depois não o põe em prática. Não pôr em prática a
palavra é gravíssimo, gera desilusão, decepção, fracasso: a casa em
ruínas, a vida como inútil, a tristeza como ultima palavra.

- Importa salgar e se tu não vives “salgado” segundo as
“Bem-aventuranças”, não serves a muita coisa, és um sal sem sabor, não
tens um grande sentido, mas muita ilusão na vida. Serás certamente
tragado pelas vicissitudes da vida (“ser jogado fora e pisado pelas
pessoas” v. 13).

- "Vós sois a luz do mundo" (Mt 5,14).  O tema da “luz” é muito
presente nos evangelhos. Um dia Jesus fez uma promessa: “Quem me segue
não andará nas trevas, terá a luz da vida”. Ter a luz da vida? Se um
dia um cristão possuir a luz da vida terá descoberto o sentido do
nascer, do viver e do falecer. Como se consegue tudo isso? Seguindo a
Jesus, pondo em prática sua Palavra. Ter a luz da vida é não se
confundir, mas detectar muito bem o que vale a pena e o que não vale,
saber onde o veneno se esconde, discernir entre o bem e o mal.

- Uma pessoa iluminada ilumina, uma família iluminada por Deus
resplandece, uma comunidade iluminada pelo Espírito faz muito bem aos
necessitados de luz na vida.

Concluindo, vejamos brevemente qual o “Espírito” do sal e da luz que
somos convidados a possuir para nos salgar e para salgar o mundo.

Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino
dos céus! Que meus bens externos e internos promovam o bem comum.

Marcello Candia, grande industrial, decidiu destinar parte do lucro de
sua empresa em vista de uma “Fundação”. Tal Fundação, hoje em dia,
socorre inúmeros pobres, idosos abandonados e leprosos em vários
países, inclusive no Brasil.

Bem-aventurados os que choram, os aflitos, porque serão consolados.
Que a dor do meu irmão seja a minha também.

A aflição e o choro, neste contexto, significam uma força interior,
uma resistência contra o descaso e a indiferença.

Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!

A Palavra de Deus nos atrai, nos pede adesão e nos convida a não usar
a arma do agressor. Temos que nos empenhar, nos defender, mas com a
disposição do homem de coração manso. E Jesus promete, ao manso,
vencer, ser gente de sucesso, possuir a terra, a dignidade, a honra.
Ser manso também é um convite a não ludibriar e não passar a rasteira
no próximo.

Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!

Prossigamos em nossa vida sendo guiados somente por Deus, sem mistura,
sem ídolos, puros. Que no nosso coração haja retas decisões e
intenções e não segundas intenções.


Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!

A paz combate a ignorância, as doenças, a fome, o desamparo, as
drogas, os desajustes em família. Imaginemos Deus dizendo ao pacífico:
“Você se parece comigo, você é meu filho”.

Sobre o autor
Frei João de Araújo Santiago

Frade Capuchinho, da Província Nossa Senhora do Carmo. Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Mestre em Teologia Espiritual. Tem longa experiência como professor, seja no Brasil, como na África, quando esteve como missionário. Por vários anos foi formador seja no Postulantado, como no Pós Noviciado de Filosofia. Atualmente mora em Açailândia-MA. Já escreveu vários livros e muitos artigos.