Homilia dominical / Frei João Santiago
V Dom tempo comum 2017
Mateus 5, 13-16: “Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lâmpada e a coloca debaixo de uma vasilha, mas sim num candeeiro, onde brilha para todos que estão na casa. Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus”.
- No livro do Êxodo encontramos uma passagem que fala do Santuário como lugar onde se deveria arder sempre uma lâmpada: “Ordenarás aos israelitas que tragam para o candelabro, óleo puro de olivas esmagadas, a fim de manter acesa a lâmpada continuamente” (27, 20-21). O Evangelho de São Lucas 12, 35 diz: “Estejam cingidos os vossos rins e acesas as vossas lâmpadas”. O Santuário é o lugar onde acontece o encontro do homem com Deus, lugar de paz, de reconciliação, de harmonia, de superação dos pecados, das maldades.
- No Evangelho Jesus pede que o encontro com o divino aconteça não mais no Santuário de pedra, mas no Santuário que é a comunidade, o grupo de irmãos que vivem no amor de Jesus. Este Santuário vivo irradia a luz do amor de Deus. Este Santuário tem uma diferença em relação ao Santuário antigo: é um Santuário em movimento. O cristão e a comunidade cristã recebem a missão de ir ao encontro dos homens e mulheres desse mundo. E vai para salvar, salgar, iluminar, tirar da ignorância, das trevas, do medo, da falta de fé, de esperança e de amor. É Jesus revelando que nós cristãos somos a “marca”, a garantia de que tudo que ele ensinou, de fato, pode, sim, se tornar real. Que maravilha: eu, você, nós, salgando o mundo, dizendo que a paixão, morte e ressurreição de Jesus não é uma fábula, mas uma presença viva no meio de nós a tal ponto que somos, realmente, pessoas felizes e promotoras do bem em nosso meio.
- Nosso Senhor faz questão de se deixar encontrar nos seus discípulos, e estes discípulos devem ir ao encontro de todos os homens e mulheres e estes homens e mulheres devem sentir-se acolhidos pelos discípulos de Jesus.
- É verdade! Por vezes tememos e por isso nos refugiamos em nossa lar, com os nossos amigos mais próximos e em nossa comunidade cristã. Vivemos sem nos preocupar tanto com o destino da criação e de tantos semelhantes. O mundo é agressivo, competitivo, perigoso, mentiroso, etc. Já o profeta Amós dava-se conta de um mundo que trocava as pessoas por um par de sandálias. Como São Pedro tendemos a preferir armar uma tenda no monte e lá permanecer. MAS..... neste domingo a Igreja lê para nós um Evangelho que nos instiga, nos pro-voca, nos chama a uma fé madura e adulta, a uma prática de vida que salgue e ilumine a terra dos homens. O Santo João Paulo II dizia: “O Evangelho tem que se tornar cultura”. Grande esse desafio! Plasmar nossas relações humanas, nossas famílias, nosso trabalho e recursos, nossa educação, nosso coração, nossas empresas, nosso viver com o outro e em sociedade segundo a lógica do Evangelho. Sem a força do Espírito, sem a atração da Palavra a tendência é mesma aquela de viver a nossa fé de modo intimista e que cada um se vire como possa.
- Degenerado, estragado, perdido. Palavras fortes! Pois é.... o mundo sem sal e sem luz, os humanos sem sal e sem luz se tornarão degenerados, estragados, perdidos. Não é por acaso que assistimos a tanto descaso, a tanto egoísmo e indiferença, a tanta agressão homicida e por palavras, a tantas drogas em nosso meio, a tantas enfermidades do corpo e da alma. Para que a criação não se perca, Jesus nos convida a salgar e iluminar a terra. Façamos nossa parte, sejamos sal, sejamos luz.
- Jesus se dirige aos seus discípulos que lhes diz: “Vós sois o sal da terra”. O cristão que vive as “Bem-aventuranças” é um sinal, é sal, garantia de como se pode viver e ser feliz. Quando vivemos assim, somos os continuadores confiáveis da mensagem de Jesus e seu Reino, e testemunhas de um caminho que leva à felicidade.
- "Mas se o sal perde o sabor, com que o salgaremos?” Vale ressaltar que Mateus usa o verbo “moraino” que não é perder sabor, mas enlouquecer. Isso mesmo! Jesus disse: “Mas se o sal enlouquecer....”. Quem é louco? É aquele que recebe o ensinamento de Jesus com muito entusiasmo, mas depois não o põe em prática. Não pôr em prática a palavra é gravíssimo, gera desilusão, decepção, fracasso: a casa em ruínas, a vida como inútil, a tristeza como ultima palavra.
- Importa salgar e se tu não vives “salgado” segundo as “Bem-aventuranças”, não serves a muita coisa, és um sal sem sabor, não tens um grande sentido, mas muita ilusão na vida. Serás certamente tragado pelas vicissitudes da vida (“ser jogado fora e pisado pelas pessoas” v. 13).
- "Vós sois a luz do mundo" (Mt 5,14). O tema da “luz” é muito presente nos evangelhos. Um dia Jesus fez uma promessa: “Quem me segue não andará nas trevas, terá a luz da vida”. Ter a luz da vida? Se um dia um cristão possuir a luz da vida terá descoberto o sentido do nascer, do viver e do falecer. Como se consegue tudo isso? Seguindo a Jesus, pondo em prática sua Palavra. Ter a luz da vida é não se confundir, mas detectar muito bem o que vale a pena e o que não vale, saber onde o veneno se esconde, discernir entre o bem e o mal.
- Uma pessoa iluminada ilumina, uma família iluminada por Deus resplandece, uma comunidade iluminada pelo Espírito faz muito bem aos necessitados de luz na vida.
Concluindo, vejamos brevemente qual o “Espírito” do sal e da luz que somos convidados a possuir para nos salgar e para salgar o mundo.
Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus! Que meus bens externos e internos promovam o bem comum.
Marcello Candia, grande industrial, decidiu destinar parte do lucro de sua empresa em vista de uma “Fundação”. Tal Fundação, hoje em dia, socorre inúmeros pobres, idosos abandonados e leprosos em vários países, inclusive no Brasil.
Bem-aventurados os que choram, os aflitos, porque serão consolados. Que a dor do meu irmão seja a minha também.
A aflição e o choro, neste contexto, significam uma força interior, uma resistência contra o descaso e a indiferença.
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!
A Palavra de Deus nos atrai, nos pede adesão e nos convida a não usar a arma do agressor. Temos que nos empenhar, nos defender, mas com a disposição do homem de coração manso. E Jesus promete, ao manso, vencer, ser gente de sucesso, possuir a terra, a dignidade, a honra. Ser manso também é um convite a não ludibriar e não passar a rasteira no próximo.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!
Prossigamos em nossa vida sendo guiados somente por Deus, sem mistura, sem ídolos, puros. Que no nosso coração haja retas decisões e intenções e não segundas intenções.
Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!
A paz combate a ignorância, as doenças, a fome, o desamparo, as drogas, os desajustes em família. Imaginemos Deus dizendo ao pacífico: “Você se parece comigo, você é meu filho”.