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Homilia Dominical / Por Frei João Santiago - Solenidade de São Pedro e São Paulo

Publicado por Frei João de Araújo Santiago | 02/07/2016 - 15:58

São Pedro e São Paulo, Apóstolos

“Chegando ao território de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: No dizer do povo, quem é o Filho do Homem? Responderam: Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas. Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”. (Mateus 16, 13-19)

Uma vez conheci um confrade. Dizia ele que na sua infância o momento mais prazeroso era quando se “lançava” entre seu pai e mãe no sofá, e juntos assistiam TV. Experiência de amparo, de comunhão, de partilha, de não estar sozinho, pois se estava entre pessoas que não lhe fariam mal. A palavra “Igreja” (Ecclesia) significa também estar juntos, não desamparados. Jesus, no Evangelho de hoje, fala da sua Igreja. Pedro proclamou uma fé, a fé em Jesus Cristo, o Messias, Filho do Deus Vivo. Diante de tantas ideologias acerca de gênero, de família, de progresso, etc., Jesus pede que fiquemos na fé proclamada por Pedro. Se ficarmos na fé proclamada por Pedro, estaremos nesta Igreja de Jesus, lugar de amparo, de ensinamento, de comunhão.

Jesus fala de um poder do inferno, um poder de morte (“inferno”, primeiramente, significa morada dos mortos). De fato, podemos cair no laço do caçador, nas armadilhas da vida. Eu posso ser para eu mesmo uma prisão, uma morte. O que me prende, o que me mata? Posso ser guiado pelo desejo de usar pessoas; posso ter opiniões tomadas segundo um interesse mesquinho; posso professar crenças que justifiquem meus crimes; posso levar a vida lembrando mágoas... O poder de morte ainda se mostra na mentalidade corrente que tem a marca da “indiferença”: a dor do outro não é do meu interesse e a minha dor só diz que fui derrotado, não sirvo mais, perdi!

Como posso identificar se estou sendo levado pelo poder mortal do inferno ou pelo poder da fé professada por Pedro? O poder mortal nos paralisa, enquanto o poder da fé no Filho do Deus Vivo nos faz fazer uma pergunta: “O que o Senhor quer de mim? “Senhor, que queres que eu faça? ”

“O poder das chaves”. “Ligar, desligar”. Com Pedro, com esta fé proclamada por Pedro se pode adentrar no Reino dos Céus, se pode viver já desde agora a vida do Eterno, e a comunidade cristã é o lugar privilegiado disso acontecer. Pedro, com a fé professada, se torna o responsável de todos que queiram viver e que entram nesta comunidade de vivos. Quem tem a chave protege os que entraram. Sem dúvidas, a Palavra chama atenção dos responsáveis pelas comunidades, chama atenção do Papa. Os responsáveis devem manter viva a fé no Deus vivo, no Deus que faz viver. Que todos que frequentem nossas comunidades se alimentem do Deus vivo que faz viver, ter esperança, fé e caridade.

Diante de uma terra como a nossa tão manchada de sangue e crimes, a comunidade cristã tem o poder de transmitir a fé viva e assim a terra será ligada ao céu, não será perdida.

Importa fazer a descoberta que Pedro fez. Pedro entendeu que Jesus é o Vivente. Jesus, o vivente, é uma fortaleza e sobre esta rocha se pode construir a vida.

A descoberta de Pedro, a fé de Pedro. “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo”.  Pedro fez uma experiência, aquela quando um ser humano chega à conclusão de que não pode viver sem algo ou alguém. No caso de Pedro, tratou-se de uma pessoa, sem esta pessoa ele não poderia mais viver, só vegetar. Para Pedro, Jesus e suas palavras deixavam-no vivo, vivente. De fato, um dia disse: “Só tu tens palavras de vida eterna”.

Por vezes, o Senhor é buscado só em situações extremas: quando você está na pior ou doente, quando você está sofrendo pela perda de um ente querido, quando está vazio ou deprimido, etc.

Lembremos que Pedro professou a fé sendo provocado por Jesus: “E vós quem dizeis que eu sou?”. Tal pergunta significa "Você, até que ponto quer se envolver comigo?". É uma pergunta que não exige tanto uma resposta teológica, mas uma escolha, decisão.  Pedro respondeu: “O Filho do Deus vivo”. Ao dizer isso, Pedro estava dizendo que encontrou o que buscava. Aqui Pedro se encontra totalmente “capturado” por Jesus, se encontra em envolvimento, em compromisso sério... 

A vida de Pedro foi toda colocada em jogo a partir daquela descoberta, a descoberta que na Palavra de Jesus pulsava a vida. De fato, deixou suas redes, sua casa, sua esposa, sua família, e seguiu... Pedro decidiu. Em algum momento temos que ter a coragem de sair para o mar aberto, caso contrário, permaneceremos para sempre no porto.

Queira Deus que em nossas comunidades e em nossas liturgias sintamos a presença do Deus Vivo e também os irmãos e irmãs vibrantes de vida, de fé, de esperança, de caridade. Eu vou à igreja porque ali estou bem, sou acolhido, sou amparado. Eu vou à igreja porque eu me encontro e lá tenho o meu respiro. Eu vou à igreja porque saio cheio de Deus, de vida.  A fé é também a sensação de estar no fluxo da corrente da vida, nas mãos de Deus, e entre irmãos.

Sobre o autor
Frei João de Araújo Santiago

Frade Capuchinho, da Província Nossa Senhora do Carmo. Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Mestre em Teologia Espiritual. Tem longa experiência como professor, seja no Brasil, como na África, quando esteve como missionário. Por vários anos foi formador seja no Postulantado, como no Pós Noviciado de Filosofia. Atualmente mora em Açailândia-MA. Já escreveu vários livros e muitos artigos.